(IN)FOrmalidades

sábado, abril 22

FCP sagra-se Campeão Nacional


O Futebol Clube do Porto sagrou-se esta noite campeão nacional da época 2005/2006. Os portistas venceram fora o Penafiel por 1-0. O golo foi marcado por Adriano, na conversão de uma grande penalidade.

Cerca de oito mil espectadores encheram o Estádio 25 de Abril, em Penafiel, para ver o jogo da 32º jornada da Liga Betandwin, que opôs a equipa da casa ao líder do campeonato. A expectativa em torno deste jogo era grande já que, em caso de vitória, o FCP somaria o número de pontos necessários para se sagrar campeão nacional desta época.
Apesar de uma primeira parte de clara superioridade portista, traduzida num maior número de ataques e em mais tempo de posse de bola, os azuis e brancos encontravam sérias dificuldades na concretização. Na primeira parte o lance de maior perigo foi protagonizado por Benny McCarthy, aos 14 minutos, num remate rasteiro que acabou por embater no poste da baliza defendida por Nuno Santos. Aos 30 minutos de jogo o Penafiel conseguiu assustar os dragões, com um desvio de cabeça de Jorginho que acabou por ser interceptado por Pepe.
Já na segunda parte o árbitro da partida, Augusto Duarte, sentenciou com o castigo máximo uma falta de Nuno Diogo sobre Ibson. Na conversão, Adriano marcou para os azuis e brancos e garantiu os três pontos da partida. Nos minutos que se seguiram, o FCP protagonizou uma série de ataques que puseram à prova Nuno Santos, guarda-redes do Penafiel.
Na recta final, o jogo ficou marcado por uma invasão de campo do adeptos do Porto, que não conseguiram conter a alegria perante a conquista do título de campeão nacional. Após 15 minutos de interrupção e muitos apelos por parte de diversos responsáveis dos dois clubes e das claques, os adeptos voltaram às bancadas e o puderam ser jogados os três minutos que faltavam.
Este é o 21º título de Campeão Nacional alcançado pelo Futebol Clube do Porto e o primeiro da carreira do seu treinador, o holandês Co Adriaanse.

IX Jornadas de Comunicação Social

José Rui Teixeira, docente de Filosofia, afirma

"devemos ser mais exigentes com a nossa liberdade”

A parte da tarde albergou dois painéis. O primeiro, com início às 15h00, lançava uma pergunta: “Liberdade: um Território sem Fronteiras?” Num debate moderado por Victor Ferreira, jornalista e aluno da licenciatura de Comunicação Social, Alessandra Silveira, docente de Direito Constitucional na UM, falou sobre a importância da Constituição e de como esta só funciona quando os cidadãos a reconhecem como um documento fundamental no seio de uma democracia. Na sua intervenção referiu também o segredo de justiça, afirmando que a sua extensão “é discutível”. Em suma, a ideia dominante da sua apresentação foi a de que o problema dos limites da liberdade se põe não só à comunicação social, mas a toda a sociedade.
Gabriela Gama, docente de Relações Públicas da UM, em substituição de Jorge Simões, teve com base na sua apresentação a complexidade existente na definição de liberdade. Para alguns autores, esta é plena e de todos. Para outros, não há liberdade humana, esta é apenas concebida “como uma ilusão acerca das nossas possibilidades reais”. Nassalete Miranda, directora do Primeiro de Janeiro, começou a sua intervenção referindo que, hoje em dia “é difícil perceber o que é essencial versus o voyerismo que vende”. Como comunicadora, afirma que “lidamos com uma arma letal: a palavra”. Ao longo da sua intervenção, frisou sempre que o “seu” jornal não se pauta por critérios sensacionalistas, afirmando que o objectivo diário é “conquistar um leitor por dia”.
No segundo painel o tema em debate era “O conflito da liberdade” e contou com a presença de Lídia Branco, advogada e jornalista, Luís Botelho, docente da UM e pré-candidato à Presidência da República em 2006 e José Rui Teixeira, teólogo, escritor e professor de Filosofia. A moderação esteve a cargo de Madalena Oliveira, docente da licenciatura de Comunicação Social.
José Rui Teixeira referiu na sua intervenção que o grande problema da coerência põe-se quando o que é dito é transcrito, a possível diferença existente entre dois registos que, supostamente, seriam iguais. Falou ainda de questões polémicas como a dos “novos pecados” referidos pela Santa Sé, defendendo que o cardeal que os apontou não estava a legislar, apenas emitiu a sua opinião. Terminou afirmando que "devemos ser mais exigentes com a nossa liberdade”.
Apesar de as conferências terem terminado um pouco mais tarde do que o previsto, a organização fez um balanço positivo do primeiro dia de trabalhos, salientando a forte adesão dos alunos, o que contrariou a tendência de pouca participação observada em anos anteriores.

IX Jornadas de Comunicação Social

A Liberdade da Arte


No primeiro painel do dia foi discutida a Liberdade da Arte, num debate moderado pelo jornalista Nuno Passos. Jonh Cawood, regente da cadeira de Informação e Comunicações da Manchester Metropolitan University, falou sobre a relação entre a arte e a tecnologia. Começou por focar a evolução da tecnologia ao longo dos tempos, dando como exemplo as pessoas que se juntavam à volta de um piano para cantar versus as pessoas de hoje em dia, que ouvem música em leitores de mp3. Explicou como essa evolução leva a uma mundialização de conteúdos e consequente conhecimento global de determinados produtos. A Internet foi uma ferramenta constantemente focada pelo professor, pois é um instrumento de extrema importância na forma como consumimos a arte. O aparecimento da Web fez com que o contexto em que as pessoas vêem e consomem a arte se altere totalmente. Além de descontextualizar a arte, a Internet ainda permite que essa mesma arte seja alterada. Numa segunda parte da sua intervenção, Jonh Cawood abordou o tema da tecnologia e produção cultural. Falou de um novo papel desenvolvido pelos novos media e defendeu que, na sua definição, os media devem incluir não só as novas tecnologias mas também as instituições que os usam. Referiu ainda a atenção que devemos ter aos direitos autorias pois, com a difusão de conteúdos pela Internet, estes vão-se perdendo- e há autores que se importam e outros que não.
valter hugo mãe, escritor e editor, referiu que a sua “cabeça nasceu a 25 de Abril de 1974”. Sempre dentro da temática da liberdade, falou da diferença existente entre os conceitos de tolerância, que é “para tolos” e de aceitação e afirmou que “só os tolos estão convencidos de que já não é preciso resistir”. Carolina Leite, directora do museu Nogueira da Silva e docente da UM, defendeu a necessidade que todos devem ter de não se limitar ao produto simples, à simplificação da reprodução. “Tudo menos light”, afirmou a docente, referindo-se aquilo que pode ser consumido como arte. João Negreiros, actor, dramaturgo e encenador, foi o último convidado a intervir no painel da manhã. Afirmou nunca se ter sentido livre e que existe uma certa “Comunicação Social que não vê as coisas”. Em relação à “sua” arte, João Negreiros considera que existe um certo desconhecimento que gera incompreensão por parte do público. “Se as pessoas não sabem o que é teatro convencional, como poderão saber o que é teatro de vanguarda?” inquiriu, quando falava de uma incapacidade das pessoas em geral de criticarem o que viam, quer por falta de bases para o fazer, quer por partirem de pressupostos errados (como o de que uma peça tem que ser boa só porque está em cena no Teatro Nacional). Terminou a sua intervenção explicando que, na sua perspectiva, os órgãos de informação não se substituem, apenas se complementam.

IX Jornadas de Comunicação Social

“O direito de expressão ainda nos deixa com a necessidade de decidir o que dizer como o fazer de encontrar alguém que escute e de fazer com que essas palavras soem bem”

As IX Jornadas de Comunicação Social decorreram no passados dias 19 e 20 de Abril. O primeiro dia foi inteiramente dedicado a várias conferências e decorreu no Auditório do EE2, no Campus de Gualtar da Universidade do Minho. Foram discutidas diversas temáticas relacionadas com a liberdade, num evento que ficou marcado pela forte adesão de alunos e docentes da licenciatura.
Subordinadas ao tema “A liberdade de expressão”, as Jornadas contaram com a presença de docentes da licenciatura e profissionais da área da comunicação social, entre outros.
Este ano, pela primeira vez, as conferências ocuparam apenas o primeiro dia dos trabalhos, tendo no segundo sido realizados vários workshops direccionados para as quatro áreas do curso.
Moisés Martins, presidente do Instituto de Ciências Sociais, no seu discurso de abertura, falou da crise do modelo emancipado da liberdade de expressão, referindo-se ao nosso tempo como “um tempo tecnológico”. Referiu a crescente politização dos media e a vedetização de críticos e pivots como factores a seguir com atenção, numa sociedade em que “cada vez se fala menos de mais assuntos”. Terminou a sua intervenção caracterizando as instituições e as universidades como sítios desprovidos de paixões e afectos, de “pulsão de vida”.
A directora do departamento de Comunicação Social e docente da Universidade do Minho, Zara Coelho, enalteceu a “saudável tradição” em que já se tornaram as Jornadas de Comunicação Social e que permitem a todos que nelas participam “ ir para além do que é dizível em jornalismo, relações públicas e publicidade”. Zara Coelho referiu também a necessidade de os comunicadores garantirem a verdade dos factos e não caírem na tentação de utilizarem “chamadas inflamatórias”, ao invés do diálogo. Terminou a sua intervenção citando Henrique Pinto, que defende que “o país não precisa de um choque tecnológico mas sim de um choque ético” e o historiador britânico Zeldin, que entende que “O direito de expressão ainda nos deixa com a necessidade de decidir o que dizer como o fazer de encontrar alguém que escute e de fazer com que essas palavras soem bem”.
Anabela Carvalho, directora do Curso de Comunicação Social, apresentou à audiência o caso de oito personalidades que, desde a antiguidade à actualidade, sempre se distinguiram por defenderem o direito à liberdade de expressão, tanto o seu como o dos outros.

sábado, abril 15

IX Jornadas de Comunicação Social


“A Liberdade de Expressão” será o tema das IX Jornadas de Comunicação Social, a realizar nos dias 19 e 20 de Abril na Universidade do Minho.
Ao contrário dos outros anos, desta vez as conferências ocuparão apenas o primeiro dia dos trabalhos, sendo o segundo inteiramente dedicado a vários workshops com temáticas diversificadas, de forma a cobrir as quatro vertentes do curso.
As conferências decorrerão no Auditório do EE2 e começam às 9h00, com a sessão de abertura que contará com a presença do Presidente do Instituto de Ciências Sociais, Moisés Martins, Zara Coelho, Directora do Departamento de Ciências da Comunicação, Anabela Carvalho, Directora do Curso de Comunicação Social e Hugo Torres, Presidente do GACSUM.
O primeiro painel tem lugar às 10h30 e será subordinado ao tema: “A Liberdade da Arte”. Para debater este tema estarão presentes John Cawood, regente da cadeira Informação e Comunicações da Manchester Metropolitan University, Valter Hugo Mãe, Escritor e Editor e Carolina Leite, Directora do Museu Nogueira da Silva e docente da UM, entre outros. Será moderado por Nuno Passos, jornalista.Para a parte da tarde estão reservados mais dois painéis. O primeiro, com início às 15h00, aborda a questão da “Liberdade: Território Sem Fronteiras?”. Os convidados são: Alessandra Silveira, docente de Direito Constitucional da UM, Jorge Simões, Relações Públicas da Sonae.com, Nassalete Miranda, Directora do Primeiro de Janeiro e Hélder Silva, Jornalista da RTP, ainda não confirmado. Como moderador, teremos Victor Ferreira, Jornalista e aluno da licenciatura. O último painel do dia está marcado para as 17h00 e será dedicado ao conflito da liberdade. Para debater esta problemática, estarão presentes Lídia Branco, Advogada e Jornalista, Luís Botelho Ribeiro, docente da UM e pré-candidato à Presidência da República em 2006, José Rui Teixeira, Teólogo, escritor e professor de Filosofia. As presenças de Cristina Pimenta, membro do Comité Central do PCP e de Madalena Oliveira, docente do Instituto de Ciências Sociais da UM, como moderadora, ainda não foram confirmadas.
No segundo dia das jornadas, todos os workshops começarão à mesma hora.
Haverá um atelier de postura, colocação de voz e dicção, ministrado por João Negreiros, actor,dramaturgo e encenador, um de criação de um anúncio num dia all type, da responsabilidade de Alexandre Monteiro, director criativo da Encore e um atelier de press, orientado por Raquel Silva, relações públicas da Casais Investe. Haverá ainda um atelier de produção de televisão, que terá Isolino Sousa, produtor da RTPN como responsável e o quinto e último será sobre Nuevos Medios de Comunicación. TV Digital e Internet e estará sob a tutela de Tatiana Millán Paredes, Soledad Ruano López e Rosario Fernández Falero, docentes da Universidad de Extremadura.
A organização das Jornadas de Comunicação Social está a cargo do GACSUM- Grupo de Alunos de Comunicação Social da Universidade do Minho.

sexta-feira, abril 14

ERC debatida na Universidade do Minho

“Regulação é um imperativo constitucional”. Quem o afirmou foi o Ministro dos Assuntos Parlamentares, Augusto Santos Silva, na sessão de abertura da conferência subordinada ao tema “A nova Entidade Reguladora dos Media no quadro das políticas de Comunicação em Portugal”, realizada na passada segunda-feira, dia 10 de Abril, no Auditório B2 do campus de Gualtar da Universidade do Minho.
Augusto Santos Silva falou dos aspectos de uma entidade reguladora e da sua necessidade e importância para garantir os direitos e liberdades, tanto dos indivíduos como da imprensa. Ao longo da sua intervenção, o ministro sublinhou sempre o facto de a Entidade Reguladora da Comunicação (ERC) não ser um óoirgão governamental nem estar sobre a sua tutela, mas sim da do Parlamento. Acaba por ser esse o garante de independência da comunicação social e da estação pública face aos interesses políticos.

“Da AACS à ERC”

No primeiro painel, subordinado ao tema “Da AACS à ERC”, foram debatidas as diferenças entre o extinto órgão e a nova entidade. Assim, a ERC tem mais recursos e mais poderes do que a Alta Autoridade para a Comunicação Social (AACS). Tem legitimidade parlamentar, ao ser tutelada pelo Parlamento, o que implica um maior acompanhamento das suas actividades, é mais homogénea, tem maior qualificação técnica e acaba por ser mais clara na forma de participação social. Este painel contou com a participação de Estrela Serrano, membro da ERC, Francisco Rui Cádima, docente da Universidade Nova, Manuela Espírito Santo, mestre em Ciências da Comunicação pela UM e José Manuel Mendes, docente da UM e ex-membro da AACS, como moderador.

“Novos desafios à Politica e à Regulação dos Media”

O segundo painel, com início às 14h30, teve como ponto de partida os “Novos desafios à Politica e à Regulação dos Media” e contou com a presença de Pedro Braumann, docente da Escola Superior de Comunicação Social, que defendeu a necessidade da regulação do mercado pois este “não funcionaria melhor de outra forma”. Sara Pereira, investigadora em programação para a infância e membro do Centro de Estudos de Comunicação e Sociedade (CECS), dirigiu a sua intervenção para a necessidade de uma maior regulamentação da programação infantil em Portugal. Estiveram ainda presentes neste painel Nuno Conde, jurista e membro do OBERCOM e Elsa Costa e Silva, jornalista do Diário de Noticias e investigadora dos grupos multimédia em Portugal, que defendeu a concentração dos media como forma de trazer motivação tanto no plano politico como no económico, apesar de esta não estar ainda “bem balizada”. Este debate foi moderado por Helena Sousa, investigadora em politicas da comunicação e membro do CECS.

“Regulação, Auto-Regulação e Empresas Mediáticas”

“Regulação, Auto-Regulação e Empresas Mediáticas” foi o tema do último painel da conferência. Contou com a presença de Alfredo Maia, Presidente do Sindicato dos Jornalistas e Jornalista no Jornal de Noticias, que afirmou estar em revisão o Estatuto do Jornalista. Este “intensificará os deveres deontológicos de um jornal. Introduzirá alguns deveres sindicáveis e um regime disciplinar que poderá levar à suspensão do título profissional”. Já Felisbela Lopes, investigadora em informação televisiva e membro do CECS, confirmou a necessidade de uma Entidade de Regulamentação dos media, também para que as televisões não entrem apenas na lógica das audiências e com isto pratiquem “contra-programação”, o que acaba por resultar numa desinformação do telespectador.
António Lobo Xavier, gestor responsável pelos assuntos jurídicos da SonaeCom, defendeu a concentração de meios, afirmando-a como positiva, desde que seja regulada. Falou também da ausência de “jornais de cor” (referindo-se a posições politicas claras e assumidas pelas linhas editoriais de alguns jornais estrangeiros) no nosso país e do perigo da “agenda escondida”, como forma de favorecer, de forma tácita, este ou aquele grupo ou partido. Estrela Serrano também participou neste painel que foi moderado por Joaquim Fidalgo, ex-provedor do Público e membro do CECS.
Este debate foi organizado pelo Centro de Estudos de Comunicação e Sociedade e pelo Projecto Mediascópio.

quarta-feira, abril 5

Rodrigo Guedes de Carvalho em entrevista:

“Não estou no jornalismo a empatar, ainda tenho uma certa paixão pela profissão.”

No âmbito da apresentação do seu mais novo livro, "Mulher em branco", Rodrigo Guedes de Carvalho esteve presente na Feira do Livro de Braga.
Em entrevista ao (IN)FOrmalidades e ao jornal Académico, falou da formação de jornalistas em Portugal, do argumento de "Coisa Ruim", do seu livro "A Casa Quieta" e das duas paixões: o jornalismo e a escrita.


Paulo Camacho, em entrevista recente ao jornal Mundo Universitário, afirmou que as universidades portuguesas não estão a formar bons jornalistas. Qual é a sua opinião sobre o assunto?

Infelizmente também tenho essa opinião, neste sentido: só podemos chegar a essa conclusão pelos estagiários que chegam agora às redacções e não sei se temos tido azar ou não, mas a grande maioria dos estagiários apresenta graves deficiências ao nível da formação. Para já, penso que terá a ver com o tipo de ensino vigente: é um ensino muito teórico e muito pouco prático e também eu fui vítima disso. Mas depois, regra geral, há graves lacunas de cultura geral, de conhecimento do mundo e também algumas deficiências ao nível da escrita. Muitas pessoas pensam erradamente que, por ser televisão, não é preciso saber escrever bem mas a televisão também se faz com texto, todos os jornalistas têm que escrever os textos das suas reportagens e temos verificado algumas deficiências. Não sei se é justo dizer que isto é geral, mas normalmente os estagiários acabam por não ficar precisamente porque não mostram valor para ficar. Se isso é problema da faculdade ou não, não sei, mas concordo.

Quais são as competências que, neste momento, podem fazer com que um jornalista marque a diferença? O que é, para si, fundamental nesta profissão? Independentemente de ser estudante de Comunicação Social, o que é que faz com que uma pessoa possa vir a ser um bom jornalista?

Uma atenção real ao mundo que o rodeia, porque às vezes os jornalistas são mandados a fazer serviços e estão muito concentrados naquilo que lhes mandaram fazer, neste sentido: um jornalista vai cobrir uma manifestação da CGTP e, por vezes, ao lado pode estar a acontecer qualquer coisa que pode ser noticia, mas como a pessoa acha que aquele é o seu serviço, muitas vezes passa ao lado do verdadeiro acontecimento que poderia ser a noticia. Depois, a forma de fazer as coisas. Os jornalistas não podem, nem devem, ser todos absolutamente originais e não vão todos inventar novas formas de escrever ou de montar as noticias. Mas, o que se verifica, pela nossa experiência, é que as pessoas vão fazendo quase exactamente aquilo a que têm assistido durante anos e anos, perpetuando uma mesma forma de fazer as coisas. O jornalista deve ser atento, saber que a sua profissão é procurar a noticia e não esperar que ela venha ter com ele. Procurar, estar atento e tentar dar, na medida do possível, um cunho pessoal ao seu trabalho, desde que não perca a objectividade. Tudo isso acaba por ajudar a definir os jornalistas que depois vão marcando a diferença.

“Coisa Ruim” é já um filme de referência, não só por ter sido o primeiro filme português a abrir um Fantasporto, mas também por inovar na forma como o género -terror- é tratado. Disse que o grande desafio, ao escrever este argumento, seria o de escrever para um filme de terror mais psicológico. Porque sentiu a necessidade de escrever um argumento nestes moldes? Porquê aquele assunto e porquê Seia?

Seia foi coincidência. Foi Seia como poderia ter sido Trás-os-Montes ou Castelo Branco. Foi lá que encontramos aquela casa, que era um elemento vital no argumento e, quando vimos aquela casa percebemos que seria a ideal. Em relação ao tipo de terror, ou de inquietude que o filme tem, deve-se a dois factores: primeiro, com os meios que há em Portugal, fazer um filme com muito sangue e decapitações acabaria por ser sempre uma produção menor e ridícula, tendo em conta o poder financeiro de quem faz esse tipo de filmes no estrangeiro. Por outro lado, permitiu-me trabalhar aquilo que mais gosto, que são as relações, as pessoas, já que aquilo acabar por ser, acima de tudo, a história da desagregação de uma família. Procurei incutir-lhe não uma atmosfera de sustos, mas sim um ambiente de medo, que é um sentimento que penso que todos nós, desde a mais tenra infância procuramos tanto, nos contos infantis que nos contam como nos filmes que escolhemos ver. O ser humano tem essa necessidade de se arrepiar com qualquer coisa. Ao transformar isso, não há monstros ou aliens, não existe nenhum elemento sobrenatural portanto tudo se passa dentro de um universo que nós conhecemos, o que o torna mais possível de acontecer e, nesse aspecto, parece-me mais aterrorizante do que qualquer “palhaçada” que se pudesse fazer. Acabou por resultar de um jogo de códigos que só o cinema consegue transportar. O nosso próximo argumento já não tem nada a ver com este género. Foi algo que gostei de fazer, mas não é por isso que vamos passar a cultivar esse género em Portugal.

Seria capaz de abandonar o jornalismo para se dedicar inteiramente à escrita?

Ser, seria. O contrário já não, por uma razão. Tenho poucas recordações de infância, mas desde cedo, uma das primeiras paixões que me lembro de ter é a da leitura e escrita. Qualquer escritor começa por ser um leitor e portanto, é uma paixão muito antiga que espero continuar até ao final dos meus dias, independentemente do campo profissional. Os escritores têm uma longevidade muito grande e cada vez mais me convenço de que, mais do que a decrepitude do corpo, a decrepitude da mente é que faz com que as pessoas envelheçam muito depressa. Como o escritor é alguém que está constantemente em ebulição mental, acho que isso os ajuda a viver até mais tarde e a produzirem até mais tarde. Nesse sentido via-me, um dia destes, a deixar o jornalismo e dedicar-me só à escrita. No entanto, com a idade que tenho e com tudo o que acho que ainda quero fazer no jornalismo, essa questão para já não se coloca. Tenho conseguido conciliar as duas coisas. Não é fácil conciliar o trabalho na SIC com a escrita, exige muito, nomeadamente a nível físico e familiar. Mas às vezes pergunto-me. Será que escreveria melhor se tivesse todo o tempo para a escrita? Não sei se esse tempo resultaria numa melhor escrita, portanto não sinto essa necessidade. Não estou no jornalismo a empatar, ainda tenho uma certa paixão pela profissão.


(A entrevista poderá ser lida na íntegra na próxima edição do jornal "Académico")

sábado, abril 1

Rodrigo Guedes de Carvalho apresenta "Mulher em branco"

O auditório da Feira do Livro, no Parque de Exposições de Braga, foi pequeno para todos aqueles que quiseram ver Rodrigo Guedes de Carvalho, este Sábado, na apresentação do seu mais novo livro: “Mulher em branco”. Apesar de muitos estarem presentes para ver o pivot da SIC, Rodrigo fez questão de frisar que não estava ali o profissional de televisão mas sim o escritor, para dar a conhecer o seu mais novo trabalho. Apresentado por José Manuel Mendes, que aproveitou para tecer breves considerações sobre o novo livro e o seu autor, esta conferência ficou marcada pelo tom informal e bem disposto do seu interlocutor principal. Rodrigo, o escritor, falou do conceito de romance, afirmando que “não é um mundo que se abre, temos que estar predispostos a isso”. Recusa-se a escrever livros fáceis de ler, na medida em que os seus leitores devem ser activos, não se podem limitar a “passar os olhos pelas palavras”. Em relação ao novo livro, o escritor explicou que partiu de um ponto de partida diferente. Em vez de descrever o início de uma relação, acaba por narrar o final de uma, interrogando-se sobre o que faz com que já não exista algo que continue a manter duas pessoas juntas. Esta dúvida, presente em todo o livro, faz a sua primeira aparição logo na contracapa: “Para onde vão os amores que foram um dia?”
A acção retrata um casal que acaba de enfrentar um divórcio litigioso e partilha a custódia do único filho. Num fim-de-semana com o pai, este acaba por desaparecer. A notícia do desaparecimento do filho faz com que Laura fique em estado de choque, entrando numa amnésia retrógrada. E aqui, encontramos o primeiro paradoxo: como chorar o desaparecimento de um filho que não se lembra que existe?
Para além de falar do amor (ou já da falta dele), o escritor aponta como grande desafio o “de dar a conhecer o que se passa na cabeça de alguém que não tem nada na cabeça”.
Apesar da temática definida, Rodrigo afirma: “não sei o que quis dizer com este livro”. Explicou que o seu ponto de partida são sempre as personagens: “Parto das pessoas e preciso de lhes arranjar uma história”. As suas personagens vão ganhando vida à medida que a trama vai evoluindo, vão adquirindo vivências e ligações próprias, chegando a dizer ao autor aquilo que podem e não podem fazer ou dizer. Tornam-se perigosas, é “preciso ter cuidado com elas”. Para conseguir que o livro resulte, é preciso falar com elas todos os dias, ter um método de trabalho.
Quanto aos seus gostos enquanto leitor, afirma que prefere “romances que arrisquem e me peçam para entrar neles” e que façam com que o leitor saia diferente.