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sexta-feira, novembro 25

"Puxão de orelhas" aos media

A Alta Autoridade para a Comunicação Social (AACS) divulgou hoje uma deliberação criticando a actuação dos media relativamente ao desmentido da policia acerca do envolvimento de 400 pessoas de origem africana no incidente que ficou conhecido como o “arrastão”, que ocorreu na praia de Carcavelos no verão passado.
Segundo este documento, a "generalidade dos meios de comunicação social” deveria ter assumido "publicamente o seu erro" e "formulado um pedido de desculpas (...) à opinião pública em geral e às comunidades de raça negra e de emigrantes em geral" e não "praticamente omitir ou menorizar” o desmentido da Policia, que negava as primeiras descrições.
O caso remonta a 10 de Junho, quando os media nacionais noticiaram a existência de um movimento de “arrastão” na praia de Carcavelos, envolvendo cerca de 400 pessoas que, supostamente, teriam roubado os pertences dos presentes.
Esta deliberação surge na sequência de uma queixa apresentada pela Comissão para a Igualdade e Contra a Discriminação Racial contra alguns órgãos de comunicação social, por, após o incidente, divulgarem "declarações, por vezes não coincidentes, de responsáveis da polícia".
Após várias declarações contraditórias, só sete dias depois da ocorrência é "que começam a ser publicadas declarações de responsáveis da Direcção Nacional da PSP ", explicitando que o número de assaltantes não excederia os 50 e “muitos jovens que apareceram em imagens televisivas e fotográficas a correr na praia de Carcavelos, naquele dia, não eram assaltantes, mas tão só jovens que fugiam com os seus próprios haveres". Este atraso é fortemente criticado pela AACS, que acusa ainda os media de "evidente falta de rigor informativo, isenção e de objectividade". Esta chamada de atenção é dirigida especialmente “à RTP pelas suas obrigações de serviço público", e teve como base uma análise feita pela Alta Autoridade, que considerou que as informações veiculadas pela agência Lusa estiveram "na origem das notícias" difundidas nos vários órgãos de comunicação social. Estas foram, segundo a AACS uma "versão deturpada, enganadora” e “tendenciosa dos acontecimentos" que levaram a manifestações de "racismo e xenofobia", e transmitiram "para o estrangeiro uma imagem errada do espírito de convivência interracial e de paz social que se vive em Portugal".
Apesar de todas estas criticas à actuação dos media, a AACS enalteceu o "clima de pluralismo que permitiu a reposição da verdade”, salientando o trabalho do jornal “A Capital”, da jornalista Diana Andringa e dos Provedores dos Leitores do “Diário de Noticias” e do “Jornal de Noticias”, entre outros.
Embora este documento tenha sido aprovado por maioria, contou com a abstenção de três elementos, que consideraram o tom desta deliberação "extrema e inadequadamente agressivo para com os media, parecendo designadamente atenuar a responsabilidade das autoridades na divulgação inicial das notícias que deram conta do alegado «arrastão»", acabando por ser "marcadamente hostil em relação à comunicação social” e "injusto".


Fonte:
Lusa

1 Comments:

  • a 10 de junho virou-se uma página negra na história do jornalismo português.
    os desmentidos são muito importantes, mas a verdade é que a mentira já havia passado.

    p.s. E em Itália, houve belgas, alemaes, brasileiros e outros tantos a quem o desmentido nunca chegou..

    By Blogger aL, at 12:40  

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